Agricultura Meio Ambiente

Tratamento de esgoto para zona rural

Estrutura premiada usa pedras e plantas na filtragem dos efluentes.

Grande parte das residências da zona rural ainda tem seu esgoto despejado em fossas negras, aquelas sem qualquer revestimento, nas quais os dejetos vão diretamente para o solo. Só 38,7% dos domicílios brasileiros no campo têm coleta ou fossas sépticas, revestidas.

Incomodado com essa realidade, o engenheiro ambiental Jonas Rodrigo dos Santos, de Capanema, no Paraná, desenvolveu seu próprio sistema de tratamento quando ainda estava na universidade. Com materiais simples e plantas, ele criou um filtro que retira 98% dos contaminantes do esgoto, o projeto foi premiado.

Como funciona

O esgoto doméstico e os dejetos dos suínos vão primeiro para uma fossa séptica, que é interligada ao tanque de tratamento. Lá, o material sólido se acumula no fundo e depois, a parte mais líquida do efluente é coletada por um cano e levada aos filtros. A filtragem é feita por pedras e também por plantas que, com suas raízes, captam os nutrientes do esgoto e devolvem água limpa ao sistema. Ao fim do processo, todo o efluente evapora e nada é despejado na natureza.

Construindo a fossa séptica

No projeto disponibilizado por Jonas, a fossa séptica é de tijolos, rebocada com cimento e impermeabilizante, e tem 2,2 metros de um lado, 2,8 metros do outro e 2 metros de profundidade. Ela recebe o esgoto doméstico e os dejetos dos suínos por meio de duas tubulações de 100 milímetros cada.

Veja na ilustração:

Fossa séptica é feita de alvenaria, com tijolos e cimento, veja as proporções. — Foto: ReproduçãoFossa séptica é feita de alvenaria, com tijolos e cimento, veja as proporções. — Foto: Reprodução

Fossa séptica é feita de alvenaria, com tijolos e cimento, veja as proporções. — Foto: Reprodução

Para o sistema de tratamento apenas de esgoto doméstico, as proporções da fossa serão outras e é possível até mesmo comprar a estrutura pronta (as instruções estão no fim da reportagem).

Além disso, antes de ir para a fossa séptica, os resíduos de cozinha deverão passar por uma caixa de separação de gordura, dessas que normalmente existem nas casas que têm rede de coleta de esgoto e que também são compradas prontas.

Na fossa séptica, os dejetos sólidos vão se acumular no fundo e os líquidos seguirão por um cano até o tanque de filtragem. É preciso fazer a manutenção da fossa a cada seis meses.

Jonas alerta, porém, que só se deve retirar a parte sólida (deixando ao menos metade do conteúdo do recipiente), para não remover junto a colônia de bactérias que realiza o tratamento do esgoto.

“O material retirado pode ser utilizado como fertilizante em pastagens e na lavoura, pois já se encontra totalmente estabilizado”, diz o engenheiro.

Tanque de tratamento

O tanque de tratamento de Jonas tem 4 metros de um lado, 10 do outro, e 80 centímetros de profundidade. Ele precisa ser construído com uma declividade de 10%, pois os efluentes circulam dentro do sistema por gravidade. Isso significa que a estrutura será inclinada: o cano de entrada dos dejetos ficará acima do de saída.

O tanque é repartido por 6 divisórias com espaçamento de 1,35 metro entre elas. Elas são interligadas por uma abertura, de forma intercalada, para que os efluentes percorram todo o sistema.

Veja no esquema abaixo:

Tanque de tratamento deve ter divisórias e precisa ser construído com uma declividade de 10% — Foto: ReproduçãoTanque de tratamento deve ter divisórias e precisa ser construído com uma declividade de 10% — Foto: Reprodução

Tanque de tratamento deve ter divisórias e precisa ser construído com uma declividade de 10% — Foto: Reprodução

O tanque deve ser preenchido de maneira a formar 4 filtros: o primeiro deles leva pedras brutas grandes, o segundo leva britas, o terceiro tem pedriscos e o quarto, o mais fino, recebe areia. Veja a distribuição das pedras:

Tanque de tratamento de esgoto preenchido por pedras — Foto: Reprodução

Tanque de tratamento de esgoto preenchido por pedras — Foto: Reprodução

Cada um dos filtros tem canos de 30 cm, onde são colocadas as plantas. Os canos são cheios de furos, para que as raízes das plantas tenham contato com os efluentes.

Nos canos do primeiro filtro, de pedras grandes, devem ser plantadas as taboas. No segundo e no terceiro, as bananeiras e, no último (de areia) as taiobas. Os canos não têm terra em seu interior. Para dar sustentação às plantas, podem ser usados os pedriscos e, no filtro mais fino, a própria areia.

Importante: as folhas das taiobas plantadas no sistema devem ser queimadas e não podem ser usadas para alimentação, pois acumulam coliformes fecais.

No lado oposto ao da ligação com a fossa séptica, fica o cano de saída do esgoto tratado. Veja:

Sistema de tratamento de esgoto por zona de raízes — Foto: ReproduçãoSistema de tratamento de esgoto por zona de raízes — Foto: Reprodução

Sistema de tratamento de esgoto por zona de raízes — Foto: Reprodução

O tanque de tratamento não é coberto com alvenaria: as pedras e a areia ficam expostas. A água da chuva, que infiltra no sistema, ajuda na filtragem dos efluentes. Veja como ficou:

Sistema de tratamento de esgoto por zona de raízes projetado por Jonas dos Santos — Foto: DivulgaçãoSistema de tratamento de esgoto por zona de raízes projetado por Jonas dos Santos — Foto: Divulgação

Sistema de tratamento de esgoto por zona de raízes projetado por Jonas dos Santos — Foto: Divulgação

Confira as dimensões para montar o sistema de tratamento apenas para o esgoto doméstico:

Fossa séptica de fibra ou polietileno (comprada pronta)

Quantidade de moradores Volume mínimo da fossa
1 a 3 3 m³
4 a 6 6 m³
7 a 10 10 m³

Fossa séptica de alvenaria

Quantidade de moradores Dimensões (largura x comprimento x profundidade) Tamanho do septo de entrada de efluentes Tamanho do septo de saída
1 a 3 1m x 1,5m x 2m 1,6 m 0,5 m
4 a 6 1,2 m x 1,8 m x 3m 2,5 m 0,7 m
7 a 10 1,7 m x 2m x 3m 2,5 m 0,85 m

Dimensões do tanque de tratamento

Quantidade de moradores 1 a 3 4 a 6 7 a 10
Dimensões do tanque (largura x comprimento x profundidade) 4 m x 8m x 1m 5 m x 13 m x 1m 8,5m x 20 m x 1m
Quantidade de divisórias 7 8 9
Distância entre as divisórias 1,15 m 1,45 m 2 m
Nº de compartimentos formados 8 9 10

O tanque deve ser rebocado e impermeabilizado internamente. Os tubos de entrada e saída dos efluentes devem possuir septos de 30 centímetros. A tubulação de saída deve ficar 10 centímetros abaixo da de entrada.

Inserção de biofiltros e plantas

Quantidade moradores 1 a 3 4 a 6 7 a 10
Brita nº 4 1º compartimento (taboas) 1º e 2º compartimentos (taboas) 1º e 2º compartimentos (taboas)
Brita n° 2 2º compartimento (taboas) 3º e 4º compartimentos (taboas) e 1/4 final do 9º compartimento (taiobas) 3º, 4º e 5º compartimentos (taboas) e 1/4 final do 10º compartimento (taiobas)
Brita nº 1 3º e 4º compartimentos e 1/4 final do 8º compartimento (bananeiras) 5º e 6º compartimentos (bananeiras) 6º, 7º, 8º compartimentos (bananeiras)
Pedrisco 5º, 6º e 7º compartimentos (bananeiras) 7º e 8º compartimentos (bananeiras) 9º compartimento e 3/4 iniciais do 10º compartimento (taiobas)
Areia grossa 3/4 iniciais do 8º compartimento (bananeiras) 3/4 iniciais do 9º compartimentos (taiobas) *

Os exemplos são para tanques de tratamento que possibilitam a evaporação completa dos efluentes (com exceção do sólido, que permanece na fossa séptica).

Para sistemas em que o efluente tratado será reutilizado ou lançado em cursos d’água, as dimensões são outras . É importante lembrar que é preciso ter autorização ambiental neste último caso.

Fonte: G1

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